segunda-feira, janeiro 22, 2007


Em que sonho nos mantêm, entretendo-nos com crises cujo fim, dizem, nos fará sair do pesadelo? Quando tomaremos consciência de que não há crise, nem crises, mas uma mutação? Não a de uma sociedade, mas uma brutal mutação civilizacional? Participamos de uma nova era, sem conseguir enfrentá-la, sem admitir nem mesmo perceber que desapareceu a era anterior. Em vez de pôr luto por ela, passamos os dias a mumificá-la, a dá-la como actual e em actividade, ao mesmo tempo que respeitamos os ritos de uma dinâmica ausente. Porquê esta projecção permanente de um mundo virtual, de uma sociedade sonâmbula devastada por problemas fictícios - quando o único verdadeiro problema é eles terem deixado de ser problemas para se tornarem a norma desta era simultaneamente inaugural ou crepuscular, que não assumimos?

Viviane Forrester, autora do livro "O Horror Económico" a que pertence este trecho, é romancista e ensaísta e autora de alguma critica literária no jornal Le Monde, França.