quinta-feira, novembro 06, 2008

O social canibalismo

(Imagem de Francisco Goya)




O 5 de Outubro de 2008 vai ficar nos anais da história universal como o dia (ou madrugada) da eleição do primeiro presidente negro nos Estados Unidos da América.
É obra!
Resta agora esperar para ver quanto tempo se aguentará o queniano-descendente senador Barak Obama dentro do duríssimo endurance que é o sistema político norte-americano.
Isto, claro, já para não falar de um outro endurance mais associado às visões radicalizadas de alguns ideais de organização social predominantes naquele imenso país.

Porém, e enquanto as hostes se (e nos) distraem com análises acerca dos ventos de mudança ao estilo "Yes, we can!", cá dentro, nas terras lusitanas, mais uma vez se abusa de poderes que por democrática confiança foram delegados.

Por cá, o 5 de Outubro será lembrado (ainda que só por uma pequena minoria) como o dia em que o Governo assumiu mais um imenso calote sem o mandato do povo que o elegeu, escudando-se numa maioria parlamentar que lhe tem assegurado sistemáticas violações a uma democracia em que poucos já acreditam.

A nacionalização do Banco Português de Negócios é a ponta de um cruel icebergue e, lamentavelmente, neste Titanic (a que Saramago chamaria antes jangada... de pedra) perecerão muito mais pessoas do que as 1.517 que se afundaram com a estrela da White Star Line na fatídica noite de 14 de Abril de 1912.

Neste afundanço literal, a que se somam avales e juros de uma crescente dívida pública, a actual governação (e muitas outras antes desta) deixa aos contribuintes, e mesmo àqueles por nascer, uma factura que é demasiado cara.

Nunca como agora fez tanto sentido o cenário da partida.

Não tanto pelas condições de vida que neste ou naquele momento se apresentam mais dificeis, mas antes por uma realidade, uma cultura, um país no qual tenho cada vez mais dificuldades em me rever!
Em suma, se nada disto para mim já serve, como poderei ensinar o patriotismo aos que de mim descendem?
Que Portugal é este?
Que futuro é este?
A pergunta, tal como a factura, há-de chegar.
E nós, estaremos cá para responder?
Para pagar?
Que nos perdoem os nossos filhos e os nossos netos!
Aos que governam pela incompetência e irresponsabilidade.
E a nós, os governados, pela inércia e pelo medo, mas acima de tudo por não termos feito frente a tanta MALDADE!
Este dia será lembrado, mas antes fora que fosse esquecido...
tal é o peso do seu canibalismo social!

Mais um dia que passou


A cidade está a recolher
Por entre os escombros do dia
Definem-se arestas desalinhadas
De uma jornada por concluir
As dores nas vértebras apertam o ar
De correntes desnorteadas, desprovidas
Corre-se, anda-se, adormece-se o frio e o suor
Todos juntos numa corrida contra o tempo
Um tempo que está sempre lá para nos lembrar
Quando mais um dia chegou ao fim, cansado, desvitalizado.
Esperançados, interrogamo-nos sobre o despertar que amanhã há-de chegar.